quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Pôr-do-sol e cabelos brancos na Bahia

Hoje terminei de ler um livro que um querido amigo quase jornalista me indicou para ler, intitulado "Nú de botas" do cronista Antônio Prata. Foi a primeira vez que tive contato com o escritor, e me encantei com a forma simplória do retrato das memórias da infância em 140 poucas páginas. Gosto muito do tipo de narração das crônicas, por trazer fatos cotidianos e personagens conhecidos registradas em palavras cheias de emoções. É um texto vivo por si só.
Hoje também fui entregar um documento na Barra aqui em Salvador, o compromisso foi rápido e deu para ficar sentada apreciando um entardecer de uma primavera tipicamente soteropolitana, estava em um banco sozinha observando as pessoas caminharem, os vendedores, policiais, banhistas (no momento desejava estar no lugar deles), ei que se aproxima três idosos (1 casal e uma senhora). No mesmo instante eu me levanto para dar lugar aos três, e a simpática senhora disse que tinha lugar para nós quatro, pois a mesma não estava tão gordinha assim. Meus olhos estavam atentos a chegada do ônibus, e meus ouvidos a conversa dos três (rs).
- Cintia, como foi a sua noite de sono? Está se sentindo melhor ?
- Anete eu precisei deixar Alfredo sozinho na cama, não durmo direito lá. Estou preferindo o sofá
a minha coluna consegue ficar mais ereta e não sinto tantas dores.
- E os remédios, está tomando ?
- Sim estou! Tão caros, mas fazer o que se dependemos dele para amenizar as nossas dores. Mas sim
deixa eu te contar, ontem estava falando com Maria e ela me disse que o condomínio dela comprou um apartamento do prédio ao lado para não derrubarem e construírem outro. Veja só você o que foi preciso fazer!
- Nossa senhora! Sorte deles que tiveram condições de comprar.
- E tu Anete, como está a saúde ?
- Tenho uma família feliz, netos lindos e a dor que é certa do nosso corpo a gente aprende a conviver.
- Ainda temos o privilégio de podermos ver esse pôr-do-sol quando quisermos. Basta andar um pouco e estamos apreciando o espetáculo da natureza.

Meu ônibus chegou. Uma pena não ter ficado mais com os três.
Envelhecer e continuar saber apreciar é uma dádiva.
Assim querido amigo Antonio Prata a sua decisão de não crescer mais fazia completo sentido.
Os adultos são complicados demais com suas palavras grandes e números impressos por papéis em todos os cantos. Acho que ser idoso deve ser melhor pois podemos recordar os episódios mágicos que uma vida pregressa se faz de lembrança. Com uma grande diferença, nossos passos são mais lentos, não temos tanta pressa de desbravar o que é conhecido. Ahhh mas um pôr-do-sol a mais nunca enjoa.





quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Oito pontos


O nosso corpo é nossa casa, e existem pessoas que nos cuidam...os anjos ?
A gula é um dos pecados que mais cometo, o olho sempre é maior que a barriga. 
Toda família tem seus rituais, e os alimentícios então nem se fala, tem aquelas receitas especiais
que são guardadas para serem comidas nos almoços de domingo. Na minha família não é diferente, 
e os doces e frutas são obrigatórios após a comida do meio dia. Uma fruta especial que nunca pode
faltar nas casas dos meus familiares é a melancia, esta é a nossa sobremesa predileta. 

Tem o sorvete americano também (aquele de três camadas diferentes), que minha mãezoca faz que sempre é destruído por minha ávida boca rs. 
Pois bem, anooooos atrás, quando eu tinha uns 6 anos tinha essa sobremesa no congelador lá de casa, e não tinha uma altura satisfatória (ainda não tenho) e nem maturidade para colocar esse doce para mim . Minhã mãe tinha ido tomar banho e disse que quando acabasse iria colocar para mim, e quem disse que aguentei esperar ? Ao ouvir as primeiras gotas do chuveiro, realizei a ponta do pé de uma bailarina em formação (na época) e inciei a missão de captura da sobremesa predileta. Triste fim, calculei errado o movimento de deslocamento e em uma queda livre o pote de vidro marinex cai em meu pezinho. Um grito e minha mãe sai correndo do banheiro: "Que merda que você fez ? Não disse para me esperar ? Sua ansiedade tá vendo...". Dor e dor eu sentia, nem tinha notado o corte imenso no meu pé, fui reparar quando o rastro da sangue ficava pela casa. " Mãe, me machuquei". Ai começa a aventura para achar algum vizinho e nos acompanhar até uma emergência mais próxima da minha casa, morava distante dos serviços de saúde na época, minha mãe ficava tensa com a quantidade de sangue que saia do meu pé. Chegando na emergência 5 pontos fizeram parte da minha história de cicatrizes, e eu acudindo a minha mãe (ela quase desmaiou enquanto levava os pontos),  Alguns dias de cuidados no pé e tenho mais uma nova marca das aventuras da vida.
E os três pontos que faltam ficam para a minha habilidade gastronômica em cortar coisas, na verdade estava atenta aos noticiários enquanto comia. Aprendam: poucos dominam a arte das múltiplas atividades simultaneamente. Estava eu cortando a suculenta melancia com meus 20 e poucos anos de experiência e ao invés de direcionar a faca para a linda e brilhante casca verde o meu dedo foi o alvo, e uma faca amada de serrote deixou sua marca no meu dedo indicador esquerdo (rs). Quem estava em casa ?  " Mãe!!! Me leva para o hospital." Mais um mimo das cicatrizes, e uns dias sem nadar. Esses são alguns pontos que a vida dá.